
Afinidades | Exposição coletiva, Museu Oscar Niemeyer
O projeto “Afinidades”, realizado pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), reúne 20 artistas paranaenses – ou com forte ligação com o estado – , três deles representados pela Galeria Ybakatu. Na exposição inaugurada no dia 5 de novembro, cada um dos convidados destacou obras no acervo do Museu que dialogam entre si e, a partir delas, criou a sua própria proposta.
“A proposta do projeto é uma imersão no acervo e na coleção de arte brasileira que está hoje no MON”, resume a diretora-presidente do MON e curadora da exposição junto com Marc Pottier, Juliana Vosnika. “O projeto pretende compartilhar o acervo do Museu com o público por meio dos olhos de artistas locais”, comenta.
Os artistas participantes são: André Azevedo, André Nacli, Cleverson Oliveira, Constance Pinheiro, Daniela Busarello, Eliane Prolik, Fernando Canalli, Gustavo Caboco, Juan Parada, Hugo Mendes, Juliane Fuganti, Marcelo Conrado, Marcelo Stefanovicz, Maya Weishof, Rogério Ghomes, Tatiana Stropp, Tom Lisboa, Tony Camargo, Washington Silvera e Willian Santos.
Washington Silvera
Eu escolhi duas obras do acervo para dialogar, criar uma ponte. A primeira foi a do Tunga, um artista fundamental dentro da estrutura de escultura brasileira, e também da minha formação. A outra obra é de um artista desconhecido, possivelmente do Gabão, de um acervo de obras da cultura africana doadas ao MON.
A instalação que apresento tem um ponto fundamental, que é a escolha do carvão. É a primeira vez que eu utilizo esse elemento dentro da minha poética, e eu gosto de pensar do crescimento da arvore até a transformação desse material. Eu vou trabalhar dentro de um espaço de 2×4 metros, carregado de muito carvão. A ideia não é mostrar um espaço destruído, mas algo que foi transformado, informado, e que ao mesmo tempo passou por um momento intenso e de muita luz. É aí que eu gostaria de tocar as pessoas.
Hugo Mendes
Eu escolhi três artistas, não pensei numa instalação específica, mas em uma particularidade de cada trabalho para falar da minha pesquisa.
O primeiro foi o Jarbas Lopes, que tem um trabalho que se apresenta enquanto pintura, enquanto relevo e enquanto tridimensionalidade. Ele também utiliza materiais já conhecidos, industrializados, mas que ainda tem uma manufatura, uma feitura que vai para o artesanal.
A segunda é a Carina Weidle, que sempre foi uma referência para mim desde a época de estudante. Os “Concentrados A e B” tem uma relação que vem de uma figura, mas parece uma abstração, então você não consegue captar inteiramente o que seja esse trabalho, ele fica sempre “se ensaboando”, sempre possibilita uma nova leitura, e isso te dá um estranhamento familiar a partir dele.
O terceiro é o Lafaete Rocha, que foi uma escolha mais subjetiva, de memória, pois ele enquanto artesão e feirante fala muito do que eu já fui, também feirante e artesão. No começo da minha trajetória existia sempre essa dúvida sobre a linha entre a arte popular e a erudita, sempre muito desfocada, do que seria o limite de uma para a outra. Nesse trabalho ele conta da saída de uma cultura de um campo que vai para a cidade, de uma cidade que vai para o campo, existe um antropomorfismo, uma relação de mudança nesse corpo, que me interessa muito.
Hoje eu pesquiso muito uma relação de metamorfose dos corpos, de utilização de partes dos corpos para falar de outras coisas, sempre uma partição e uma sobreposição de significados para apresentar um outro dado. Eu acredito que nessa metamorfose você acaba recusando formas pré-determinadas.
Tatiana Stropp
Eu escolhi uma xilogravura da Maria Bonomi e esses relevos do Sergio Camargo. As duas obras conversam com a minha pesquisa. A primeira nos traz esse colorido vibrante, essas cores que se misturam na superfície do papel a partir do processo da xilogravura. Eu exploro isso também na minha pintura, na medida em que as sobreposições de transparências se misturam na superfície do alumínio.
Os relevos do Sergio Camargo apresentam essa pesquisa do volume que se debruça no espaço. Esses dois cilindros cortados em ângulo que colocam o observador a se deslocar diante da obra para perceber suas sombras e luzes.
A pintura que eu escolhi para essa exposição tem um pouco dessas duas obras, tem essa dobra que se debruça no espaço, que apresenta essa sombra colorida na parede, e em que as relações cromáticas se dão a partir das transparências das tintas sendo construídas na superfície do metal.
Serviço:
Exposição “Afinidades”
Museu Oscar Niemeyer, Sala 7
A partir de 5 de novembro de 2021
Fotos: Gilson Camargo