Temporais, Intemporais | Exposição individual de Tatiana Stropp

Temporais, Intemporais | Exposição individual de Tatiana Stropp


O que será em verdade transparência
Se a matéria que vê, é opacidade?
Nesta manhã sou e não sou minha paisagem
Terra e claridade se confundem

Hilda Hilst, Passeio.

Nessa exposição solo nomeada de Temporais, Intemporais Tatiana Stropp conduz nosso olhar para três dos núcleos de sua produção: as tríades de elementos, as novas composições e as placas contínuas de tamanhos variados e dobras inseridas. Composta de camadas que operam no embate das opacidades e transparências da tinta a óleo sobre o alumínio, sua produção de mais de vinte anos foi estabelecendo uma espécie de calendário, na fusão entre título e período de produção. Nesses registros das temporalidades gravadas como 09.05, 2012; 26.09, 2014 e 27.02, 2017; a vírgula opera sentido de equação: a finitude dos anos é antecedida pelos dias e meses fazendo seus trabalhos reincidirem no tempo, como luminescências no mundo.

A tríade vermelha que abre a exposição traz inscritas notações cronológicas esparsas 2014/2016/2021, ressonâncias relacionais conjugadas em sete anos. Nelas, a artista particulariza as faixas de cor pelo suporte criando composições insulares e monocromáticas, amplificadas na noção de intervalo qual um arpejo cromático. O magenta reincide na segunda tríade, uma composição tonal de violetas, cinzas e azuis.

O percurso entre violetas e vermelhos também é percebido no segundo andar nos trabalhos em superfície contínua. A modulação do suporte é um ponto de inflexão na obra de Tatiana. Nesses trabalhos, as dobras são matemáticos vincos industriais preestabelecidos que sustentam sua performance cromática. Mas há também um jogo de sentidos que a artista opera em alguns trabalhos na replicação de assinaturas no verso instaurando a possibilidade de rotações.

Nesses trabalhos rotatórios incidem variáveis, posto que a cor reage à luz e ao movimento do espaço diferentemente nas composições verticais ou horizontais. A dobra pode ser momento da escalada luminosa da cor ou um tom rebaixado em declive. Esse fluxo de rotações possíveis reflete o procedimento da artista em seu ateliê, pois Tatiana performa com a pintura. Há todo um corpo em gestualidade durante sua produção, como um respiro da artista no movimento da cor e no tempo das velaturas. Mesmo os suportes de grandes dimensões não destituem essa dinâmica da artista.

Mas o que dizer de sua mais recente produção com a polifonia de quinas vergadas à mão ou a intensa flutuação das pinceladas? Ambas, 15.08, 2021 e 10.09, 2021, ocorrem na saturação dos silêncios do mundo. Neles, Tatiana incorpora a lateralidade de um movimento constante e magmático, assumindo um novo eixo de deslocamento na composição desses trabalhos e aplicando fluorescências que os ativam – como um pulsar das imagens subterrâneas e dos horizontes escondidos.

Rafaela Tasca
setembro, 2021

17.08,2014-08.08,2021
Óleo sobre alumínio (três barras com 5 mm de espessura colocadas lado a lado)
120×36 cm, 120×10 cm cada.

17.08, 2014
Óleo sobre alumínio frente e acrílico verso (três barras com 5 mm de espessura colocadas lado a lado)
120×36 cm, 120×10 cm cada peça.

10.09,2021
Óleo sobre alumínio frente e acrílico verso
93×130 cm, 93×65 cm cada

15.08,2021
Óleo sobre alumínio
80×103 cm, 25×25 cm cada

27.02, 2017
Óleo sobre alumínio
124x200x10 cm

27.09,2017
Óleo sobre alumínio
124x100x08 cm

09.05, 2012
Óleo sobre alumínio
135×120 cm

12.06,2012
Óleo sobre alumínio
11×12 cm

De 01 de outubro de 2021 a 11 de fevereiro de 2022.

Fotos: Gilson Camargo