À distância | Exposição individual de Inês Rebelo
No imaginário plástico de Inês Rebelo, é frequente encontrarmos referências visuais e textuais de fenômenos cósmicos distantes entrecruzarem-se com objetos triviais do dia-a-dia, tão prolíficos que se tornam quase invisíveis, numa produção que investiga a relação entre eventos científicos singulares e a experiência empírica de momentos quotidianos. Muitas vezes, a re-apresentação e re-contextualização de eventos científicos revelam um certo caráter humorístico ao confrontar o espectador com o absurdo e a desesperante incapacidade de considerarmos o nosso lugar no espaço. Os fenômenos singulares e fatos científicos que interessam a Inês Rebelo deixam, assim, de ser verdade insofismável, para se apresentarem como curiosidades em que podemos acreditar ou não.
Recorrendo a pintura, desenho, instalação e desenvolvendo colaborações pontuais com outros agentes culturais, a prática da artista questiona hierarquias de objetos, preciosos e mundanos, do mesmo modo que convoca simultaneamente nebulosas em explosões que ocorrem no espaço sideral sem testemunhas, e pirilampos de emergência usados regularmente pelos serviços de Bombeiros e Polícia.
Para esta exposição, Inês Rebelo explora noções amplas de distância e afastamento não circunscritas apenas a eventos estudados em astronomia, mas selecionando também locais geográficos inóspitos ou de difícil acesso, acontecimentos que remontam a um passado anterior à formação da Terra, ou especulando sobre um futuro longínquo.
De 22 Outubro a 23 Novembro de 2012
Na primeira sala de exposição destaca-se Universo Observável, uma pintura de pequenas dimensões a iniciar a tônica de À Distância. Referenciando um diagrama retirado de uma publicação científica, começamos por inferir a posição da Terra por relação com a dimensão estonteante do que parece ser a totalidade do Universo. Imediatamente, somos reduzidos à dimensão de um átomo tal é a incomensurabilidade da escala intergaláctica. Contudo, a esta distância espácio-temporal justapõe-se a proximidade da peça de chão intitulada Ursa Major. Esta instalação se mostra com uma familiaridade peculiar, já que utiliza lâmpadas rotativas e LED’s que nos habituamos a ver em veículos de emergência civil. Um conjunto de oito pirilampos é aqui agrupado de acordo com a configuração e espectro visível da constelação Ursa Maior, utilizando temporizadores orquestrados de acordo com uma coreografia de luz pensada especificamente para a Galeria Ybakatu.
We Climbed funciona como uma peça de dobradiça entre o piso térreo e a mezanino. Como que repetindo o movimento da escadaria existente no espaço, desenha-se uma diagonal dramática onde se inscreve uma viagem pelas dunas do deserto de Gobi.
Inês Rebelo – Tum Tum From Planet Lum, 2006-2007
Ilustrações científicas de Hazel Wilks, Juliet Beentje, Emmanuel Papadopolous, Bruno Ribeiro Pinto, Lucy Smith e Linda Gurr – Apoio Fundação Calouste Gulbenkian
50 x 50 cm; 30 x 42 cm; 42 x 60 cm; 21 x 29 cm; 2x (42 x 30 cm); 20 x 30 cm.
Já no piso superior, Polaris parece sinalizar o Norte e, assim, lembrar-nos da nossa localização no contexto espacial exterior à escala terrestre, tal como Outbound nos sintoniza temporalmente a partir de uma paisagem do Utah. Por último, Where to go? recorre ao poder imagético da ficção científica para lançar um olhar reflexivo antecipado a um futuro sem data marcada.
Inês Rebelo – Distância de Lisboa a Curitiba (ESCALA 1:1000), 2012
Fita adesiva
33 cm (esfera)
Fotos: Inês Rebelo